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Foto do escritorHeloisa Rocha

Orgulho Acessível

Por que o consumidor com deficiência LGBTQIAPN+ é excluído do mercado de moda e beleza?

A quinta edição da pesquisa Diversidade na Comunicação de Marcas em Redes Sociais - produzida por Elife, Buzzmonitor e SA365 - mostrou que a participação das pessoas com deficiência foi de apenas 0,8% nos anúncios em 2022, comprovando uma queda em relação aos outros anos. Em compensação, o mesmo estudo apontou que as publicações envolvendo a população LGBTQIAPN+ se mantiveram estáveis em comparação ao ano anterior e, além disso, a distribuição destes conteúdos ocorreram de forma espalhada ao longo do ano, uma vez que, em 2021, foi observado um pico em junho, mês do orgulho LGBTQIAPN+.


Mas o que um dado tem a ver com o outro? A relação, segundo a CEO da ONG Vale PCD, Priscila Siqueira, é o fato de que pessoas com deficiência estão presentes em todos os recortes sociais, porém ficam de fora de todos eles quando a questão é visibilidade. E ela complementa dizendo que, de um modo geral, a sociedade não considera os corpos, a sexualidade, a identidade e a potencialidade das pessoas com deficiência enquanto consumidoras, ocasionando, dessa forma, em um apagamento e uma falta de diversidade na própria equipe dessas grandes marcas.

Quando você tem uma equipe diversa, todos os públicos são considerados.

Foi esta falta de consideração que fez com que, em 2020, a psicóloga Priscila Siqueira e o cineasta Emmanuel Castro criassem a ONG Vale PCD, que tem a missão de promover a visibilidade da pessoa com deficiência LGBTQIAPN+. Fundada no Recife (PE), a organização surgiu com a proposta de ser um espaço de acolhimento para este recorte social que, de acordo com Priscila, é tão específico, visto que a solidão e o desamparo sempre foram muito presentes quando os idealizadores frequentavam espaços destinados à comunidade LGBTQIAPN+.


Usando uma camisa azul com bolsos frontais, uma calça de listras verticais nas cores preta e branca e uma corrente grossa e prateada, Priscila sorri mostrando os dentes enquanto segura com as mãos a ponta da bandeira LGBTQIAPN+, que está sobre seus ombros. Ela é uma mulher com nanismo de pele branca, olhos castanhos e cabelos curtos, cacheados e tingidos de vermelho. Além disso, na foto, ela usa óculos de grau de armação prateada e batom vermelho. Em uma das pontas da bandeira há a logomarca da ONG Vale PCD impressa. O fundo da imagem é uma parede amarela.
Priscila Siqueira (Foto: Kelvin Andrad)

Hoje, a Vale PCD realiza palestras e consultorias para empresas e contribui tanto para a promoção de acessibilidade em eventos quanto para o mapeamento de locais acessíveis no Brasil. Além disso, a organização possui sua própria festa e, também, oferece atendimento para a saúde mental.


Quando questionada se o setor de moda e beleza atende os consumidores com deficiência LGBTQIAPN+, Priscila Siqueira garante que não ao ressaltar que muitos produtos, principalmente de beleza, não possuem recursos de acessibilidade que garantam autonomia a eles. Já no quesito guarda-roupa, ela explica que por ser uma pessoa com nanismo precisa cortar todas as calças e que, também, muitas blusas não se ajustam ao seu corpo. Tudo isso, para a CEO da Vale PCD, são exemplos de como a indústria não considera esta população e que, além do mais, não leva em conta as suas muitas características, que vão além da deficiência.


Priscila Siqueira defende que a roupa é a forma que a pessoa (com e sem deficiência) tem de mostrar a sua pluralidade, refletindo diretamente quem é, como gostaria de ser socialmente reconhecida e a conectando a uma determinada comunidade. Segundo ela, a ausência de uma moda adaptada para a comunidade com deficiência LGBTQIAPN+ faz com que ela perca a autoconfiança e parte da sua identidade. Além disso, essa exclusão reforça estereótipos de que pessoas com deficiência não são vaidosas e não se arrumam bem.


Por tudo isso, a CEO da ONG Vale PCD lembra as empresas de que a comunidade com deficiência gera lucro e, também, deseja ser devidamente representada na mídia. E, para completar, ela explica que as escassas marcas dedicadas a este público são inacessíveis tanto no valor quanto na variedade dos produtos ofertados. Afinal, a população com deficiência possui estilos variados e necessita ter o poder de escolha sem que haja as limitações anteriormente citadas.


Como solução, Priscila Siqueira acredita que falar cada vez mais sobre o assunto é o primeiro passo para incluir a pessoa com deficiência LGBTQIAPN+ nas narrativas comerciais e na cultura das empresas que atuam (e defendem) a diversidade de gênero. Entretanto, além de ampliar (e reforçar) diariamente tais reivindicações, ela salienta a necessidade de dados que ajude a comunidade nessa luta, uma vez que os resultados da população com deficiência do Censo 2022 só devem ser divulgados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último trimestre deste ano e que, também, não há até hoje informações sobre o número de brasileiros com deficiência que se identificam como sendo LGBTQIAPN+.


Enquanto a mudança não ocorre, os interessados que quiserem conhecer a Vale PCD ou, até mesmo, conversar com um dos membros da organização devem acessar valepcd.com.br ou seguir o perfil deles no Instagram, que está disponível aqui.


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