Excluídas do mercado, mães com deficiência relatam como adaptaram o guarda-roupa durante a gravidez.
Durante a gestação, o corpo da mulher passa por transformações que vão além do aumento expressivo da barriga, a exemplo do inchaço de pés, pernas e seios e do alargamento do quadril. Para isso, as vestes e os calçados precisam ser práticos para vestir, fáceis para se locomover e confortáveis e, se pararmos para analisar, se tratam dos mesmos pré-requisitos exigidos na elaboração de uma peça para uma mulher com deficiência, especialmente a física.
Em um passado não muito distante, as futuras mamães não encontravam no mercado peças que se adaptassem aos seus novos corpos e que, ao mesmo tempo, fossem estilosas e atendessem a diferentes ocasiões. Mirando em um público-consumidor que promove imponentes chás revelações, não fica mais reclusa durante este período e, também, se inspira nos "looks" (e books) das celebridades "em estado de boa esperança", a indústria da moda apostou todas as fichas em um comércio em que a mulher não precise abrir mão de sua identidade e de seus gostos durante a gravidez.
Seriam todas elas contempladas por esta moda que chamamos de moda gestante? Por que não encontramos peças projetadas especialmente para esses corpos que adquiriram ou nasceram com alguma deficiência, mas que, como qualquer outra mulher, consomem, se vestem e geram outra vida?
Para saber como elas se sentem por serem excluídas dessa indústria em um dos momentos que, para muitas, são os mais mágicos da vida e, também, as adaptações fashions que tiveram de recorrer durante a gestação, o Moda Em Rodas conversou com a bancária Fabíola Dreher Guimarães, que possui nanismo e engravidou em 2010, e Carolina Ignarra, CEO do grupo Talento Incluir, usuária de cadeira de rodas e que engravidou em 2005.
Alternativas para os nove meses de gestação.
A moda é um assunto complicado para a população com nanismo, já que, segundo Fabíola Dreher Guimarães, "(a gente) tem que pagar numa calça jeans que, geralmente, é R$ 100 ou R$ 150, dependendo da marca. E aí, a gente tem que ir lá levar para costureira para modificar. A gente já vai ter que gastar mais ainda." Pensando nisso, a bancária decidiu por recorrer à parte mais fácil para não sofrer tanto, que consiste em bodies e calças para gestantes com as seguintes modificações: o encurtamento da barra e o uso de uma pence, apertando na lateral e colocando elástico no cós para não apertar a barriga.
Já nos últimos meses, ela garantiu que não conseguia mais usar os bodies porque a barriga e os braços curtos a impediam de alcançar o fechamento entrepernas e, dessa maneira, substituiu a peça por camisas e vestidos de malha largos, que eram acinturados com a ajuda de um cinto. Nos pés, Fabíola calçava apenas chinelos, crocs e sapatilhas da marca infantil Molekinha que, de acordo com ela, possui um formato mais largo.
Para nós, com nanismo, sapato já é difícil e quando as mulheres ficam grávidas, no final da gestação, o pé incha muito, que já é o natural de toda mulher grávida inchar o pé. Só que o nosso já é inchadinho naturalmente.
Quatro anos depois de sofrer um acidente e adquirir a deficiência, Carolina Ignarra engravidou da Clara e, segundo ela, sentiu poucas modificações corpóreas, já que por ser, na época, muito nova engordou um total de onze quilos, sendo três deles só no último mês. Entretanto, ela garante que usou diariamente as meias de compresão, indicadas para as mulhers paraplégicas que engravidam. No entanto, ela também garante que, opta até hoje pelas "calças de gestante por serem confortáveis na barriga em razão do elástico (inserido nesta área do corpo). E quando vê um modelo legal compra porque sente que fica mais confortável para quem fica sentado o dia inteiro."
As (in)capacidades das mães com deficiência
O fato de não serem notadas pelas marcas de moda gestante está muito atrelada à concepção que a sociedade tem da maternidade de uma mulher com deficiência. E, apesar de não ter vivenciado nenhum ato capacitista tanto por parte da família e do marido quanto do médico que a acompanhou, Carolina Ignarra disse que se deparou com "o entendimento, por parte de terceiros, do quão bom era ela ter filho porque, no futuro, teria alguém para lhe ajudar" e, também, depois do nascimento de Clara, alguns acharam que "se tratava de uma criança adotada por duvidar da sua capacidade de gestacionar um ser".
Não é para isso que (mulheres com deficiência) têm filhos! Pessoas com e sem deficiência no futuro podem precisar de filhos para ajudar, né. Isso é a concepção da família. Um co-dependendo do outro. Então, esse é um exemplo que eu tenho de capacitismo.
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