Looks apresentados na Casa de Criadores desconstroem formas, conceitos e designs impostos até hoje na moda e na sociedade.
O primeiro contato de Eduardo Inácio Alves com a moda inclusiva foi em 2016, ano em que participou da 7ª edição do Concurso Moda Inclusiva que, naquela época, era promovido pela Secretaria do Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo. A experiência fez com que ele se apaixonasse pelo segmento e, também, que se atentasse à falta de informação e referências sobre o assunto.
Assim, em 2019, ele e Luana Sales fundaram a Boicauva Moda Inclusiva, marca campo-grandense que produz peças com adaptações e que, além disso, promove iniciativas de educação e conscientização sobre a existência da moda inclusiva.
Ao tomar conhecimento da collab Moda Inclusiva & Casa de Criadores, o co-fundador da Boicauva Moda Inclusiva decidiu se inscrever por acreditar que se tratava de uma oportunidade de amplificar a ideia de que a moda deve ser pensada e produzida para incluir e não segregar. E, felizmente, três criações suas foram selecionadas para desfilarem na 53ª edição do evento responsável por revelar talentos da moda.
A coleção de Eduardo Inácio Alves recebe o nome de "Desconstrução" por, segundo ele, tentar descontruir conceitos e preconceitos que, muitas vezes, são impostos como verdades absolutas. Para isso, ele referenciou a rigidez da sociedade brasileira e a nossa tentativa de reter tudo que nos cerca nas estampas e nas formas de cada peça.
Desconstruir é dar voz e vez para todos e, também, entender que a nossa sociedade é heterogênea. É impossível evoluir sem aceitar e respeitar as diferenças e, para isso, a desconstrução é parte essencial do nosso crescimento.
Quanto ao futuro, o co-fundador da Boicauva Moda Inclusiva torce para que essa collab motive outras marcas e eventos a seguirem o mesmo exemplo, ou seja, o de promover a diversidade e a inclusão na moda. Entretanto, ele afirma que no momento está focado na realização da primeira edição da Semana de Moda Inclusiva de Campo Grande (MS), marcada para este ano e que vai contar com cursos, palestras e oficinas e, também, com mostras e desfiles de novos nomes que trabalham com moda inclusiva.
Sobre os looks da coleção "Desconstrução":
Chamado de representatividade, o primeiro look é um macacão agênero confeccionado em tecido cinza refletivo e, nos bolsos e nas laterais, há o recorte à laser de várias combinações de triângulos, representando o triângulo rosa que, originalmente, foi utilizado nos campos de concentração nazista para identificar os prisioneiros homossexuais. A primeira adaptação da peça é um bolso superior e frontal composto por uma base rígida que permite as pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida utilizarem aparelhos portáteis, que podem ser carregados por meio da placa solar presente na lapela. Além disso, a abertura e o fechamento da braguilha é facilitada por meio de um zíper com puxador grande e, dos lados, os bolsos faca podem ser abertos por botões e, na parte interna, contam com ilhós para acomodar a bolsa coletora de forma discreta.
Outro destaque do macacão fica por conta do cós com elástico na parte traseira, possibilitando um melhor ajuste na cintura e, também, a acomodação da calça plástica (leia-se: fralda). Por falar em ajuste, a barra da calça é em velcro. E, pensando nos usuários com deficiência visual, a peça conta com etiqueta em braile e tag com leitor QR code, oferecendo a áudio descrição da peça. Finalizando, o look conta ainda com um cropped oversized com ribana dupla, abertura em botões nos ombros e a palavra representatividade em braile na barra e, também, estampada na frente.
Assim como o look anterior, o segundo é agênero e possui recortes a laser com várias combinações de triângulos representando o triângulo rosa, símbolo que, aliás, intitula esta criação. A parte superior do look é um casaco corta vento, com modelagem ampla e mangas raglan, que recebem este nome por terem sido criadas para que o Lord Raglan pudesse, depois perder um braço na batalha de Waterloo, ter movimento suficiente para manusear a espada. Além disso, a peça é composta por bolsos que permitem a acomodação dos pertences pessoais, frente com transparência e estampa exclusiva no forro que remete ao título.
Uma calça com modelagem ampla completa o design criado por Eduardo Inácio Alves que, neste caso, conta com ilhós na parte interna do bolso inferior para a acomodação discreta da bolsa coletora. Além disso, a peça traz cinto interno de elástico para mantê-la presa à cintura e aberturas laterais em zíperes com puxadores, facilitando o ato de vestir daqueles que possuem mobilidade reduzida.
O terceiro e último look selecionado também é agênero e recebe o nome de anticapacitista, palavra que se encontra impressa na parte da frente do cropped e, também, em braile na barra. A criação ainda conta com uma calça baggy com modelagem ampla e bolsos fole nas cores preta, cinza e rosa, que, além de trazerem um toque moderno, permitem que o usuário guarde com facilidade os pertences. E, da mesma forma que os looks anteriores, a parte interna do bolso inferior da calça possui ilhós para a acomodação da bolsa coletora, cinto interno de elástico para manter a peça presa à cintura e zíperes com puxador na lateral. Aqui, a novidade fica por conta de uma sobressaia em tecido transparente com bolso funcional e amarração na cintura.
Sobre o cropped, a peça assimétrica é confeccionada com algodão orgânico e possui manga oversized e abertura frontal com botões de pressão, facilitando a vestibilidade. Ademais, a altura dela é até a cintura para evitar o acúmulo de tecido aos usuários de cadeira de rodas.
No geral, as criações contam com zíper de nylon à prova d'água, botão de pressão, cordão, ponteira para cordão e ribana e os tecidos escolhidos foram Cyber Reflective New, Recycle Memory WR, Rip Stop Air Flex e Illusion WR.
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