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Foto do escritorHeloisa Rocha

Representar para não violentar!

Promover a visibilidade é um dos caminhos para o combate da violência contra a mulher com deficiência.


O oitavo mês do ano é dedicado à conscientização pelo fim da violência contra a mulher por meio da campanha Agosto Lilás, que tem o objetivo de chamar a atenção da sociedade sobre o tema. Segundo dados do Atlas da Violência de 2021, as mulheres com deficiência, principalmente as com deficiência intelectual, sofrem duas vezes mais violência do que os homens com deficiência. Sendo a violência doméstica a principal causa entre as denúncias, representando 58% dos casos, seguida de violência comunitária, que atinge 24%.


Em um ambiente composto por uma parede branca com um quadro colorido e piso de azulejo de tom claro, Ana Rita de Paula está sentada em uma cadeira de rodas e olhando fixamente para a frente. A foto, no caso, foi tirada de cima para baixo. Na imagem, ela usa batom vermelho e veste uma blusa de mangas curtas com listras horizontais nas cores preto e branco e um lenço vermelho em volta do pescoço. Ela é uma mulher gorda de pele branca, olhos castanhos e cabelos brancos e curtos.
Ana Rita de Paula (Arquivo Pessoal)

De acordo com a psicóloga Ana Rita de Paula, consultora de organizações não-governamentais e órgãos públicos municipais, estaduais e federais e autora do livro “Asilamento de Pessoas com Deficiência: A institucionalização da incapacidade social”, a violência contra a mulher com deficiência ocorre, provavelmente, porque o abusador não se motiva pelo prazer sexual, por exemplo, mas porque é movido pelo gozo de submeter a mulher. Assim, quanto mais vulnerável ela for, maior é a garantia de segurança, aumentando a efetividade do prazer.


Ana Rita de Paula destaca ainda que, invisibilizada socialmente, a mulher com deficiência faz parte de um grupo marginalizado e é duplamente discriminada pelo gênero e pela deficiência. E ainda pode ser triplamente discriminada quando se encontra em mais de um marcador de desvalorização social, como quando experimenta o racismo.


Até que ponto a baixa autoestima e a não aceitação do próprio corpo podem contribuir para que a mulher com deficiência se torne vítima de um abusador? Para Ana Rita de Paula, os motivos que levam as mulheres a não se defenderem, a continuarem com os companheiros ou companheiras e, também, de não denunciarem ou lutarem por justiça são os mesmos de quem possui uma deficiência. Entretanto, esta parcela da população ainda sofre os agravantes da dependência e da falta de acesso às leis e informação, além de, em boa parte dos casos, a autoestima e o círculo de amizades serem bem menores.

Muitas mulheres com deficiência vivem experiências com o próprio corpo que as leva a se sentirem inadequadas, fora do padrão normativo e sem a possibilidade de viverem relações afetivas e sexuais positivas. Isto, por sua vez, inibem ações de reação a essa desqualificação e as levam a julgarem essas relações aceitáveis e normais.

Quando questionada se a valorização do corpo com deficiência por parte da moda, da mídia ou da publicidade contribuiriam para a redução dos índices de violência contra a mulher com deficiência. A psicóloga Ana Rita de Paula afirma que a incidência do caso é multifatorial e, por esta razão, a atitude e a postura da mídia não daria cabo ao fenômeno, porém contribuiria para naturalizar a convivência entre pessoas com e sem deficiência e, até mesmo, tornar o corpo dessas mulheres como objeto de desejo.


Como saber se uma mulher com deficiência está sofrendo violência? É preciso estar atento(a) aos seguintes sinais: aparecimento de marcas e hematomas pelo corpo, perda de comunicação repentina e alteração no comportamento (irritação ou agressividade). E apesar de ser uma situação muito complexa pelo fato de que, muitas vezes, a vítima depende dos cuidados diários do abusador, Ana Rita de Paula ressalta a importância do apoio das pessoas próximas. "A rede de apoio é fundamental para que mulheres com deficiência melhorem a sua autoestima e sintam-se em condições de enfrentar inclusive abusadores que são, ao mesmo tempo, cuidadores, familiares ou pessoas muito próximas.", afirma.


TODAS in-Rede

Criado em 2020 pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, o programa Todas in-Rede tem o objetivo incentivar a independência e a autonomia das mulheres com deficiência através da oferta de cursos gratuitos com temas sobre trabalho, renda, autonomia financeira, prevenção à violência, autoestima, liderança e direitos afetivos, sexuais e reprodutivos.


Por falar em prevenção à violência, o programa, em parceria com a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), realiza, a partir de 04 de setembro, o curso de capacitação "O atendimento à mulher com deficiência vítima de violência". Voltado para profissionais de redes de proteção como promotores, delegados(as) e demais pessoas que atuam em delegacias, assistências sociais e outros órgãos que lidam ou podem vir a lidar com mulheres com deficiência, o curso online possui vagas limitadas e, para participar, o(a) interessado(a) deve se inscrever aqui até o dia 21 de agosto.

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