Com Síndrome de Carpenter, docente do Senac Lapa Faustolo conta como tem plantado a semente da inclusão para os futuros profissionais de moda.
Desde abril de 2022, Ana Luiza Garritano é docente de Modelagem no Senac Lapa Faustolo e, na unidade, leciona disciplinas nas áreas de modelagem e costura. Além disso, ela é pesquisadora em moda, inclusão e representatividade e, por esta razão, participa de projetos e palestras sobre os temas em questão.
Entretanto, antes de assumir o posto que ocupa hoje, a educadora relata que passou oito anos buscando uma oportunidade na área da moda em razão da Síndrome de Carpenter, condição autossômica recessiva rara e caracterizada por polidactilia nas mãos e nos pés, má formação óssea em várias regiões do corpo e fechamento precoce das suturas do crânio, ocasionando na acrocefalia, como principais características.
Por ter nascido com essa condição, Ana Luiza Garritano conta que sofreu capacitismo durante a busca do primeiro estágio, pois, na época, a Síndrome de Carpenter era descrita no currículo e, por falta de conhecimento dos recrutadores, acabava nunca sendo chamada para as entrevistas de emprego. Por esta razão, ela decidiu retirar a informação do documento, resultando em novas oportunidades para participar de processos seletivos. Porém, nessas etapas e por diversas vezes, foi indagada sobre a veracidade dos conteúdos presentes no currículo e, também, foi vítima de bullying e risadas durante as dinâmicas de grupo.
Segundo Ana Luiza Garritano, esses acontecimentos afetaram a sua confiança e, também, fizeram com que ela acreditasse que não era capaz, aumentando, dessa maneira, o seu grau de ansiedade. Deste modo, ela passou a procurar oportunidades em áreas que não correspondiam às suas duas graduações em moda e, mesmo assim, nunca foi aceita.
Reavaliando a sua trajetória profissional, Ana Luiza Garritano diz estar mais motivada e que vê a sua atuação como professora como um ato revolucionário pelo fato de que é na sala de aula que suas turmas têm o primeiro contato com o tema da moda inclusiva. Além disso, a sua posição lhe permite propor aos estudantes uma reflexão comportamental e a plantar a sementinha da inclusão para que, quando já formados, possam questionar o sistema.
Ademais de sua presença, Ana Luiza Garritano conta que no Senac é diretriz obrigatória que o projeto final abranja sustentabilidade e diversidade de corpos, tirando, dessa forma, o estudante de sua zona de conforto. Entretanto, ela salienta que para que o corpo com deficiência seja estudado e/ou discutido nos cursos de moda é preciso que docentes sejam capacitados sobre moda inclusiva, já que, por muitos anos, foi-se trabalhado em sala de aula um único tipo de público, ou seja, o "padrão".
Outro fator para essa mudança é, de acordo com Ana Luiza Garritano, a inclusão de profissionais com deficiência em sala de aula, permitindo, assim, a construção de uma nova mentalidade a partir do momento em que seus corpos e suas necessidades são debatidos em classe. Contudo, ela reforça que se não for colocado em prática tudo aquilo for aprendido jamais haverá moda para todos os corpos.
Ana Luiza Garritano finaliza dizendo que sonha com a existência de mais pessoas com deficiência na moda e que, por este motivo, espera que sua atuação como professora os incentivem a estudar mais sobre a área. Enquanto isso não acontece, ela mantém o blog Fora da Moda ativo com o objetivo de atrair a atenção da sociedade e das marcas sobre a importância desta parcela da população e, também, de suas necessidades.
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